O poder do quiet ambition: nova mentalidade ou medo do novo?
PUBLICADO POR SEEPIX COMUNICAÇÃO EM XX/05/2024
Em um mercado de trabalho cada vez mais complexo e dinâmico, um fenômeno vem ganhando destaque, com potencial de provocar transformações importantes no ambiente corporativo: é o “quiet ambition” ou ambição discreta em tradução literal. A grosso modo, a tendência, que se manifesta, principalmente, entre os profissionais da geração Z, pode ser entendida como o desinteresse em conquistar cargos de liderança.
De acordo com um estudo publicado pela Harvard Business Review, que ouviu 3.265 profissionais das mais variadas posições hierárquicas e de empresas e indústrias diferentes, somente 34% dos entrevistados afirmaram almejar posições de liderança e apenas 7% admitiram buscar a posição de C-level.
À primeira vista, o fato pode até dar respaldo ao discurso comum de alguns profissionais mais experientes de que a maioria dos jovens não possui nem compromisso nem responsabilidade em relação ao trabalho. Mas será que podemos afirmar com segurança que essa realmente é a causa por trás desse comportamento?
Na verdade, o quiet ambition representa uma mudança significativa na mentalidade dos trabalhadores. Ele desafia as concepções tradicionais de ambição e sucesso profissional em direção ao uma abordagem mais equilibrada e autêntica. Assim, em vez de buscarem ostensivamente a ascensão a posições de comando e o reconhecimento externo, esses indivíduos priorizam a saúde física e mental, além do equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal.
Com esse argumento em mente, os adeptos da tendência costumam recusar cargos de liderança que entendem serem desgastantes em relação a tempo, energia e bem-estar. Eles buscam encontrar um equilíbrio que lhes permita perseguir suas aspirações de forma mais sustentável, alinhando-as com suas necessidades e valores pessoais.
Sob essa ótica, o quiet ambition pode fazer mais sentido do que a gente pensa e não pode ser tratado como uma simples falta de ambição ou desinteresse. Mesmo porque, na maioria das vezes, esses profissionais são altamente qualificados e dedicados, com foco em suas responsabilidades cotidianas e em contribuições significativas em suas áreas de atuação.
No entanto, embora valorizem o impacto significativo do que fazem, optam por atuar de maneira mais discreta, sem, necessariamente, almejar uma posição de comando. Além disso, também apreciam o cultivo de relacionamentos sólidos com colegas e clientes, encontrando realização nas tarefas que cumprem diariamente.
Um novo desafio para o RH
O quiet ambition vem crescendo em diversos países e colocando os RHs diante da necessidade de propor alternativas para garantir o processo de sucessão nas empresas. Afinal, a falta de profissionais dispostos a assumirem cargos de destaque pode colocar em risco, inclusive, a sustentabilidade dos negócios a longo prazo, especialmente entre as organizações que costumam escolher seus líderes por meio de promoções internas.
Nesse cenário, uma das saídas possíveis é a adoção de abordagens mais proativas para identificar e desenvolver talentos, como a criação de programas de liderança destinados a todos os profissionais, mesmo àqueles que não buscam ativamente essas posições. É essencial também dar mais importância à diversidade de estilos de líderes. As empresas podem começar a olhar para as pessoas que têm um enfoque mais discreto e centrado para liderar, em vez de priorizar os mais extrovertidos.
Além disso, as organizações precisam avaliar se os gestores atuais podem ser considerados fonte de inspiração para as gerações mais novas. Se não demonstram preparo técnico para a função, vivem sobrecarregados e estressados, e não sabem se comunicar com as equipes, provavelmente, passarão uma imagem muito mais negativa do que positiva aos seus subordinados. Nesses casos, os treinamentos para liderança são mais do que necessários.
Outra estratégia inteligente é dar foco na valorização de uma cultura organizacional forte e na promoção de valores compartilhados. Tal iniciativa pode permitir que a empresa continua a evoluir, sem depender tanto das pessoas que estão nos cargos de liderança.
Uma mudança nas regras do jogo
Muitas pessoas, no entanto, veem o quiet ambition como uma tendência necessária em uma sociedade cada vez mais exausta e mergulhada em uma crise de saúde mental. Ele desafia a cultura do trabalho árduo e da dedicação extrema ao contestar o sucesso alcançado às custas do bem-estar e em detrimento da vida pessoal.
Quando o número de profissionais dedicados e interessados em assumir os cargos mais altos nas empresas começa a diminuir, é sinal de que precisamos repensar nossos modelos atuais de trabalho. E é exatamente isso que o quiet ambition parece propor. Ele promove uma cultura organizacional mais autêntica, colaborativa e equilibrada, onde o sucesso não é medido apenas pelo status ou posição hierárquica, mas sim pela realização pessoal e pelo impacto significativo do trabalho realizado.
Por outro lado, é fundamental entender o que está verdadeiramente por trás dessa decisão. Afinal, cada indivíduo é único, moldado por suas próprias experiências e interações com o mundo ao seu redor. Em alguns casos, o medo do fracasso, o receio de enfrentar desafios desconhecidos e a ansiedade em lidar com novas responsabilidades podem estar camuflados pela justificativa de uma vida mais equilibrada.
Em tais situações, é necessário um trabalho de autoconhecimento, além da realização de programas centrados na superação de inseguranças, no desenvolvimento de controle emocional e na promoção de autoconfiança. Caso contrário, o potencial de crescimento pessoal e profissional de um indivíduo estará sempre subjugado ao receio de assumir riscos, conduzindo-o a papeis mais confortáveis, mas que não, necessariamente, o fazem feliz.
A verdade é que não dá para simplesmente ignorar essa realidade. A medida em que mais profissionais optam por uma abordagem menos ostensiva em relação à carreira, as empresas são confrontadas com a necessidade de revisar suas práticas de gestão de talentos e desenvolvimento de liderança. Encarar o quiet ambition como simples falta de ambição pode ser um tiro no pé. É essencial reconhecer sua complexidade e potencial transformador na construção de ambientes de trabalho mais saudáveis e sustentáveis.
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